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Caleidoscópio

True crime à brasileira: Maníaco do Parque tem bons momentos mas se perde no roteiro

Mesmo com roteiro mal amarrado, ator Silvero Pereira entrega um maníaco digno dos mais amedontradores personagens da história do cinema

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Valorize o criminoso nacional. A máxima é da jornalista e crítica de cinema Isabella Faria ao indicar alguns filmes do gênero true crime à brasileira em sua página no Instagram. E seu ponto vai de encontro à afirmação de outro crítico, Paulo Emílio Sales Gomes, que afirmou que qualquer filme brasileiro diz mais a nosso respeito do que o melhor filme estrangeiro.

E o longa-metragem Maníaco do Parque, que estreou na plataforma de streaming Prime Vídeo no dia 18 de outubro, diz muito sobre o Brasil. Relata a cultura da violência contra a mulher, a incessante busca por audiência - na época ainda representada pela imprensa, mas que hoje avançou para as redes sociais -, e reforça a nossa eterna condição de colonizado ao representar na tela um esforço cinematográfico que poderia ser produzido por qualquer diretor, roteirista ou produtor estadunidense.

Mas essa não é uma condição do filme Maníaco do Parque, apenas. Desde os anos de 1960, o cinema brasileiro se coloca nesta posição e, conforme análise de Paulo Emílio Sales Gomes, se desenvolve na dialética rarefeita entre o não ser e o ser outro. De modo que alteramos o mecanismo através da nossa incompetência criativa de copiar.

O Maníaco de Parque segue essa cartilha: tenta se identificar no outro por meio do que é nosso. E os esforços não são de todo mal, mas seguem desconexos entre si. O filme conta a história do assassino em série Francisco de Assis Pereira, que aterrorizou São Paulo em 1998, quando matou de forma brutal mulheres na capital e que está devidamente registrada com muito sensacionalismo nas páginas policiais do país.

Na cola do maníaco está a jornalista Elena (interpretada pela atriz Giovanna Grigio), que tenta emplacar a todo custo uma matéria no jornal em que trabalha: o Notícias Populares. Aqui vale uma ressalva, já que o NP existiu realmente e seu foco era um jornalismo sensacionalista, que inspirou muitos programas de auditório nos anos 90.

Já em sua primeira reportagem, sobre um marido que atropelou sua esposa, a jornalista é confrontada pelo editor (Marco Pigossi) de que falta algo e que não publicará o material. O motivo do atropelamento é o que foi apontado na reunião de pauta como o "tempero" para figurar na capa do NP. Neste momento, inclusive, somos apresentados ao modus operandi do jornal e à cultura machista recorrente dos anos 90: o que fez a mulher ser atropelada pelo marido?

Ocorre que de jornalista tentando espaço em um jornal popular dominado por homens, Elena é catapultada a investigadora partícipe do caso, de forma inexplicável. O que prejudica a trama. A conexão emocional que ela cria com o maníaco fica pendurada apenas no fato dela ser mulher, mudando o rumo de sua intenção inicial, que era a de conseguir uma reportagem de capa.

A fragilidade dessa relação enfraquece a narrativa fazendo com que cenas de tensão e envolvimento da jornalista com a investigação acerca dos assassinatos percam força. Esse movimento minimiza, inclusive, a pretensão do filme em fazer uma reparação histórica com as vítimas, que não se sustenta nem no momento dos relatos pesados de sobreviventes ao maníaco.

Por outro lado temos uma construção sólida do personagem do maníaco, interpretado pelo ator Silvero Pereira, que se aproveita dos trejeitos de homem do interior do criminoso e da timidez do "caboclo" para entregar um papel potente e amedrontador. As mudanças de personalidade são reconhecíveis no olhar de Pereira, que coloca na tela um monstro digno de qualquer filme de terror.

Dirigido por Mauricio Eça (A Menina que matou os pais) e com roteiro de L.G. Bayão (Aumenta Que é Rock'n Roll), Maníaco do Parque tenta ser o que não é: um filme com alguma responsabilidade social e que pretende discutir temas da sociedade, na melhor escola cinemanovista. No entanto, falha ao não costurar essas temáticas ao enredo e não se aprofundar de forma adequada no motivo da jornalista Elena se envolver emocionalmente com o caso.

Por fim, percebe-se um medo latente no roteiro ao assumir o jornal Notícias Populares como um personagem do filme. Isso poderia ter conectado mais o expectador à suposta "dor" de Elena e aos seus objetivos enquanto jornalista. Afinal, uma capa não faz um jornalista, mas uma história como a do maníaco do parque marca para sempre a carreira de um.

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