
Na última quinta-feira, 27 de março, uma manifestação de servidores públicos ocupou o espaço entre os prédios da Prefeitura e da Câmara Municipal de Rio Claro, logo após a Prefeitura anunciar o fim das negociações com o SINDMUNI, alegando que a paralisação organizada por parte dos servidores desrespeitou o processo de diálogo que ainda estava em andamento.
Eu estava na sessão da Câmara naquele mesmo dia, às 15h30, acompanhando de perto os trabalhos legislativos e, principalmente, a apresentação do Projeto de Lei Complementar nº 036/2025, encaminhado pelo prefeito, que trata do reajuste de 4,56% nos vencimentos dos servidores ativos, inativos, pensionistas, das autarquias, fundações e também da Câmara Municipal. Assim que a sessão terminou, desci as escadas e me deparei com a manifestação já em andamento. Não havia outra rota a seguir. Parei. Decidi acompanhar. Afinal, sou comunicador, e parte da minha missão é observar os fatos para depois relatá-los com responsabilidade.
Mas o que vi ali não foi apenas mobilização legítima. Presenciei uma cena preocupante: fui publicamente hostilizado por um dos que se autointitulam líderes do movimento. Com um microfone na mão, ele me atacou verbalmente e incitou os manifestantes a vaiar minha presença. O argumento? Nenhum. O motivo real? O último artigo que escrevi, criticando a desorganização e as atitudes isoladas de servidores não sindicalizados que acabaram comprometendo o processo coletivo de negociação.
O rótulo usado contra mim foi o de "boquinha", termo depreciativo para quem supostamente ocupa cargo comissionado ou tem algum benefício político com a administração. Preciso reforçar o óbvio: não tenho cargo comissionado, não indiquei ninguém na atual gestão e, como sempre, mantenho minha atuação profissional e independente como marketeiro político e comunicador. O ataque, aliás, não foi só contra mim — foi contra todos os comunicadores que ousam não se submeter à narrativa única de quem quer ser dono da verdade.
O mais grave foi ter o pedido de fala negado. Solicitei o microfone, pedi a palavra para me posicionar e esclarecer os fatos. Fui impedido. Ora, falar de democracia é fácil. Difícil é praticá-la. Aqueles que se dizem defensores do povo, ao calarem uma voz dissonante, revelam sua real intenção: usar a democracia como escudo, mas não como regra.
A manifestação é um direito. A crítica também. Mas há uma enorme diferença entre mobilização e oportunismo político. Há quem use o caos como palco para se promover, deslegitimando inclusive o próprio movimento dos servidores, que são os verdadeiros prejudicados por decisões mal articuladas e tomadas sem respaldo institucional.
O caso do reajuste de 4,56% já é, por si só, um marco da fragilidade do diálogo entre Prefeitura e servidores. Muitos — inclusive eu — aguardavam com atenção o envio da reforma administrativa prometida pela atual gestão. Embora se fale em economia de R$3 milhões por ano, a proposta levanta dúvidas e críticas. Um dos pontos mais polêmicos tem sido o uso político de cargos simbólicos, como o da presidência do Fundo Social de Solidariedade. É importante destacar: o Fundo existe há muitos anos e, historicamente, quem o preside é a primeira-dama — em caráter voluntário. O que causa estranheza agora é o uso dessa estrutura dentro do pacote administrativo, trazendo para o centro da pauta um cargo tradicionalmente simbólico, mas que foi apresentado junto com uma reestruturação polêmica e mal explicada.
Me recordo de 2016, quando o mesmo Gustavo Perissinotto foi associado ao ex-prefeito Du Altimari, em meio ao trauma deixado pelo famigerado "1%" de reajuste aos servidores. Agora, sob nova roupagem, a história parece se repetir: decisões impopulares nos primeiros meses, ruídos na comunicação com o funcionalismo e uma rejeição crescente nas ruas — e nas redes.
Mas, desta vez, há uma diferença: a sociedade está atenta. E as redes sociais não esquecem. O que se diz hoje estará registrado amanhã. O que se cala agora, será cobrado depois.
Este artigo não é um ataque ao funcionalismo. Nunca foi. O servidor merece respeito, valorização e luta organizada. O que precisa ser combatido é o radicalismo inconsequente, o uso político da mobilização legítima, e o silenciamento da liberdade de expressão.
Sigo observando. Sigo escrevendo. Porque calar, definitivamente, não é uma opção.