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Exposição Memória Comurba

Instituições lembram os 60 anos da queda do Edifício Comurba, em Piracicaba

No aniversário da tragédia haverá abertura de exposição no Poupatempo, roda de conversa no Museu Prudente e lançamento de coleção virtual com mais de 275 itens

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Exposição Memoria Comurba

Há 60 anos, entre 13h35 e 13h40 de 6 de novembro, Piracicaba presenciou uma das principais catástrofes de sua história. Parte do Edifício Luiz de Queiroz, o Comurba, se transformava em pó em plena praça José Bonifácio. A queda do imóvel provocou pelo menos 50 mortes e a memória desse acontecimento é relembrada por instituições da cidade, por meio de uma roda de conversa e exposições física e virtual.

Concebido como a "marca" do desenvolvimento da Piracicaba, o prédio remetia às linhas do tradicional edifício Copan, de São Paulo. Seu nome original era Edifício Luiz de Queiroz e o apelido surgiu em referência à empresa responsável pela obra, a Companhia de Melhoramentos Urbanos (Comurba). Ele ocupava uma ampla área entre as ruas São José e Prudente de Moraes, onde hoje fica o Poupatempo e a Caixa Econômica Federal.

As instituições que se mobilizaram para o projeto "Memória Comurba" são a Câmara Municipal de Piracicaba, o Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes, o Centro Cultural Martha Watts e o IHGP (Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba).

Segundo o jornalista Edson Rontani Júnior, que preside o IHGP, parte considerável do acervo da instituição sobre o Comurba é composta por reportagens do Jornal de Piracicaba, Diário de Piracicaba e A Tribuna de Piracicaba. "O curioso é ver que os jornais da época traziam na capa informações precisas, como, por exemplo, os nomes dos falecidos e seus respectivos endereços", diz.

No dia 6 de novembro, a Câmara disponibilizará em seu Acervo Histórico uma coleção virtual com mais de 275 itens, por meio do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo. O material poderá ser consultado no sistema Atom, plataforma de descrição arquivística e arquivo que armazena itens do acervo histórico do Poder Legislativo e de assuntos relacionados.

"O Setor de Documentação ficou responsável por recolher diferentes materiais, documentos e fotos em um lugar só. A gente trouxe para cá, digitalizou e, agora, na plataforma online, reuniu toda essa documentação", explica a chefe do setor, Giovanna Calabria. Ela teve o suporte da arquivista Dayane Soldan, do servidor Bruno Didoné de Oliveira e das estagiárias Samara Lopes e Natália Marques.

Para o sistema Atom, foi desenvolvido ainda um vídeo que dá a perspectiva em 360 graus do Edifício Luiz de Queiroz. "Não é um projeto exato do prédio, mas sim uma representação ilustrativa aproximada, feita a partir de diferentes fotografias da edificação", explica Giovanna Calabria. Para a produção da imagem, a equipe do Setor de Documentação teve o auxílio do engenheiro mecânico Luiz Felipe Bononi Carrara e das arquitetas Gabriela Machado e Nathalia Fraguglia.

Além dos jornais de época, especialmente os exemplares do extinto Diário de Piracicaba e Jornal de Piracicaba entre 1964 até o final de 1965, o sistema conta com documentos da própria Câmara, como leis, atas e notas de pesares enviadas por autoridades de todo o país.

Entre esses itens, chama a atenção uma nota de 15 de novembro de 1964, do Diário de Piracicaba: "Trabalho de remoção dos escombros chega ao fim. Mais de 4 dezenas de corpos retirados até ontem. Campanha de socorro já arrecadou mais de 1,5 milhão de cruzeiros."

O Cine Plaza, que funcionava no Comurba, havia exibido, na véspera da tragédia, o filme "A Vida Pecadora de Christine Keller", às 20h, com capacidade máxima de espectadores. Uma sessão estava programada para o dia seguinte.

POUPATEMPO –– A exposição "Comurba - 60 anos da queda" está sendo desenvolvida em parceria com o Departamento de Comunicação Social da Câmara. A abertura acontece às 10h do dia 6, no Poupatempo (praça José Bonifácio, 700, Centro). As visitas podem ser feitas até 6 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e aos sábados das 8h às 12h.

"Essa exposição é uma contribuição de várias entidades e tentamos compilar todas essas visões. De uma forma geral, todos nós nos importamos em trazer para a exposição a memória daqueles que foram impactados pela queda do Comurba. Então, há vozes, muitas vozes, que foram silenciadas e que procuramos resgatar", explica Ana Torrejais, diretora do Museu Prudente de Moraes.

"É claro que a gente não quer trazer a tristeza novamente, mas é importante relembrarmos para que se tenha mais cuidado a partir das tragédias que já aconteceram. Essa exposição física é importante justamente por acontecer na área onde o edifício funcionava, apesar de a exposição virtual ter um grande alcance", diz Jocely Cerqueira Lazier, coordenadora do Centro Cultural Martha Watts.

HISTÓRIA –– A construção do Edifício Luiz de Queiroz começou no final da década de 1950, sendo que 14 dos 15 andares estavam prontos. Porém, apenas o Cine Plaza, no andar térreo, estava em funcionamento, o que diminuiu o impacto quanto ao número de mortos.

Na semana da queda do prédio, a Revista Manchete trouxe duas páginas sobre o assunto, na reportagem "Os empreiteiros da morte": "a população de Piracicaba, aterrorizada, viu ruir como um castelo de areia metade do arranha-céu que era o seu orgulho".

A edição de 15 de novembro do jornal Diário de Piracicaba informa que o Edifício Luiz de Queiroz se "tornara motivo de orgulho dos piracicabanos e, que era, dentro da nossa paisagem arquitetônica, símbolo do nosso progresso, em espectro sepulcral da dor e da consolação."

A remoção total dos entulhos do edifício ocorreu apenas na gestão do prefeito João Herrmann Netto (1977-1982), que aproveitou parte do material para aterrar uma área próxima à rua do Porto, transformando-a na Área de Lazer do Parque da Rua do Porto, que em 2010 recebeu denominação em sua homenagem. As causas e os culpados pela queda nunca foram identificados.

Em depoimento a este repórter no ano de 2019, por ocasião dos 55 anos da queda do edifício, o advogado, jornalista e professor Antonio Messias Galdino disse que a remoção dos entulhos teve início em 1972, na gestão do prefeito Cássio Paschoal Padovani, que havia acabado de assumir o Executivo, após a cassação de Francisco Salgot Castillon.

"Os restos do Comurba ficaram como um fantasma por vários anos. Após iniciada a remoção, na gestão de Padovani, houve a sua continuidade, pelos outros prefeitos", disse Galdino, que presidiu a Câmara de 1975 a 1977. Quando o Comurba caiu, ele trabalhava na FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba), na rua Dom Pedro 2º, 627.

Há diferentes versões na imprensa sobre o número de mortos: algumas publicações mencionam 45, enquanto outras informam como 54 casos fatais. Além dos operários do edifício, entre as vítimas estavam funcionárias da bomboniere do Cine Plaza e de pessoas que circulavam pela praça no momento da queda.

Maurício Beraldo, historiador do Museu Prudente de Moraes, diz que o episódio provocou um trauma coletivo na cidade, que pode, inclusive, ter freado a construção de novos prédios no decorrer das décadas. Ele lamenta, no entanto, que parte dessa memória caminhe para o seu apagamento. "Por isso, é extremamente importante reforçar essa memória que a gente tem da cidade, pois a história não é feita só de momentos alegres e felizes."

Por meio de pesquisa no Siave ––sistema eletrônico de proposituras da Câmara–– há uma indicação enviada ao Executivo no ano de 2013, no qual o vereador Capitão Gomes sugeriu a construção de um memorial às vítimas do edifício.

No dia 15 de outubro deste ano, a Câmara encaminhou para autógrafo do prefeito Luciano Almeida (PP) o projeto de lei 180/2024, para a criação do "Memorial às Vítimas do Edifício Luiz de Queiroz – Comurba", a ser instalado na praça José Bonifácio. A iniciativa foi votada em dois turnos no plenário e é de autoria da vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua.

ESCOLA –– O projeto "Memória Comurba" começou a ser desenhado no primeiro semestre deste ano, após a Escola do Legislativo Antônio Carlos Danelon - Totó Danelon iniciar as discussões sobre a salvaguarda do acervo histórico de Piracicaba. Desde então, foram três debates sobre o tema.

Além das exposições física e virtual, será realizada pela Escola do Legislativo uma roda de conversa presencial, intitulada "60 anos da queda do Comurba: história e relatos pessoais", no próprio dia 6, das 14h às 17h, no Museu Prudente de Moraes.

Com mediação do vereador Pedro Kawai (PSDB), diretor da Escola, o evento terá a participação da artista plástica Áurea Pitta Rocha, do diretor do IHGP, Edson Rontani Júnior, e do doutor em física dos solos Epaminondas Ferraz. Também participam o cirurgião dentista e ex-vereador Waldemar Romano, o servidor público da Câmara, Bruno Didoné de Oliveira, e Rubens Vitti, funcionário público aposentado com mais de 30 anos de atuação na Câmara.

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